14.10.06

Sevilha Andando

Voltas...voltas...tantas voltas...palavras...palavras...tantas palavras...a partir de agora quero falar menos e sentir mais...sentir...
sentir essa cidade que me espera em todas as suas entranhas...em todas as suas formas...em todas as suas línguas e tradições...vou ao fundo sem medo de não encontrar meu coelho da sorte...vou sempre mais pois meu PORTO continua aqui...com seus olhos reluzentes como essa "Torre del Oro" sempre a me observar....
Deixo os "olhos" de João Cabral de Melo Neto falarem sobre Sevilla e sobre as minhas ilusões e perspectivas...na sua fantástica poesia, Sevilha é mulher e seu andar é uma dança...é sensualidade...é nostalgia...é Flamenco...


BARCAÇA

Ele embarcou numa mulher
(Um dia, foi numa cidade:
a vida cigana de então
pedia porto onde ancorasse.

Em Sevilha matriculou-se:
se nele é meteco, ninguém
habitou mais fundo esse porto
nem o soube do quê ao quem).

Hoje embarcou numa mulher.
Recifense(porto-alegrense), ele a chama barcaça,
que é o barco mais feminino,
é mulher feito barco e casa

Mas nunca fez por anular
o registro da barca antiga:
na barcaça pernambucana(gaúcha)
na proa se lê "Sevilha".

E nela embarcou sem querer
saber o que fazem com ela:
já se carrega pouco açúcar
nas barcaças fêmeas, à vela.

Que importa se vai Norte ou Sul?
Se vai a Goiana ou Barreiros?
Tem o registro de Sevilha
e é sem timão, sem timoneiro


Ao som de "Tu eres mi religion" - Maná