23.8.06

Poética e Filosofia do Trágico

Tragédia..."peça em verso, de forma ao mesmo tempo dramática e lírica, na qual figuram personagens ilustres ou heróicos e em que a ação se entende elevada, nobre e própria para suscitar o terror e a piedade; termina, geralmente, por um acontecimento funesto."
Essa é a definição do nosso "querido" Houaiss para esse gênero teatral tão interessante e ao mesmo tempo tão misterioso. Definição essa bastante simplória; entretanto, não vem ao caso, dicionários não podem nem devem ser profundos em seus verbetes.
O gênero teatral em si surgiu na Grécia Antiga porém se torna tão atual pelo fato de o aspecto TRÁGICO ser inerente a qualquer ser-humano. Em todos os casos, independente do enredo, encontramos alguma forma de identificação com o gênero HUMANO.
Mas por qual motivo se considera a Tragédia, Grega?! A Tragédia em si, ou melhor, a idéia de Tragédia é totalmente associada à AÇÃO humana. Portanto, existe uma diferença gritante entre a POÉTICA da tragédia, a qual surgiu na Grécia como gênero tetral e foi ,praticamente, "normatizada" por Aristóteles em sua "Poética", a uma FILOSOFIA do trágico, a qual foi fundada por Schelling a apartir de 1800, sendo que até hoje, os conceitos de TRAGICIDADE e de TRÁGICO continuam sendo fundalmentalmente alemães.
Aristóteles define a TRAGÉDIA "como a imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão;deve ser composta num estilo tornado agradável(que reúne ritmo, harmonia e canto) pelo emprego separado de cada uma de suas formas; na tragédia, a ação é apresentada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores. Suscitando a compaixão e o terror, a tragédia tem por efeito obter a purgação dessas emoções."
Atribui-se à concepção de Aristóteles, que associa a tragédia à purgação, ao fato dele ter sido médico, o que teria contribuído para que ele entendesse a encenação dramática como uma espécie de remédio da alma, ajudando as pessoas do auditório a expelirem suas próprias dores e sofrimentos ao assistirem o desenlace.
Como podemos observar, há uma explícita ligação entre a definição de Tragédia do "Houaiss" e a de Aristóteles na sua "Poética". Esse é o resultado da "cruel" racionalização científica do conhecimento, na qual, Sócrates foi o percursor. Maneira essa, cartesiana e superficial de elencar definições, como se as mesmas fossem simples objetos de decoração.
Penetrar a própria razão das coisas, distinguindo o VERDADEIRO do aparente e do erro era, para Sócrates, a única atividade digna do homem. A idéia é acabar com esse pensamento unilateral, utilizando Nietzsche. Para ele, porém, esse tipo de conhecimento simplório não tarda a encontrar seus limites: "esta sublime ilusão metafísica de um pensamento puramente racional associa-se ao conhecimento como um instinto e o conduz incessantemente a seus limites onde este se transforma em ARTE".
Por essa razão, Nietzsche combateu a metafísica, retirando do mundo supra-sensível todo e qualquer valor eficiente, e entendendo as "idéias" não mais como "verdades" ou "falsidades", mas como "sinais". A única existência, para Nietzsche, é a aparência e seu reverso não é mais o Ser; o homem está destinado à MULTIPLICIDADE, e a única coisa permitida é sua interpretação.
Enfim, essa foi uma pequena elucidação que, provavelmente, tratarei com mais profundidade nas próximas postagens. Primeiro, pelo fato de estar submersa em devaneios sobre um "Ensaio sobre o Trágico". Segundo, por viver em TCC - Terror Criativo Constante (ou seria em CATARSE?!) sobre o gênero teatral. Terceiro, por estar tentanto enternamente e dolorosamente minha libertação através da ESCRITA.

Ao som de "A Valquíria:Cavalgada das Valquírias" - Wagner.